sexta-feira, 26 de outubro de 2007

No dentista (1) - O conflito que não aconteceu

Foi muito rápido, uma fração de segundos. Acompanhei tudo sentado na sala de espera do dentista.
Uma senhora entrou com a filha adolescente (bonita, por sinal) e foi direto ao balcão. Simultaneamente um senhor levantou-se para escolher uma revista na mesa de centro da sala. Mãe e filha voltam do balcão e passam por trás do senhor. E a filha senta exatamente no lugar onde estava o senhor. Ao virar-se, com a revista Ana Maria na mão (escolheu bem, hein!?), o homem disparou aquele olhar bovino. Estarrecido, escolheu outra cadeira e se acomodou com olhar de poucos amigos.
Dois minutos antes disso tudo, um senhor gordinho havia feito a mesma coisa. Escolheu duas revistas e sentou-se. Começou a ler uma e deixou a "Ti Ti Ti" (só revistão!!) ao lado. Quem passou a mão na "Ti Ti Ti" do gordinho? A mesma garota que havia acabado de sentar na cadeira do outro. A mãe, ao lado, "acobertando".
Já com os dois crimes consumados, teve uma hora em que os dois homens se olharam. Fiquei nervoso. Estariam combinando o ataque? Meu Deus, os dois vão agredir essa menina sem anestesia e motorzinho, imaginei. A menina entraria no consultório já sem o dente. Que cena! O que a dentista ia fazer? Só restaria jogar aquele bafo quente (não o da dentista, mas daquele instrumento), depois o jatinho de água e falar "cospe, minha filha". Mais nada. Nem a consulta ela ia pagar.
Mas nada disso aconteceu. Foi tudo exagero do meu espírito, influenciado por esse clima de guerra no qual vivemos. Ainda bem que a adolescente contou com a compreensão de dois homens que tinham idade para ser seu avô. Pessoas de bem, pacientes, que entendem os jovens.

Saí de lá com duas certezas. A primeira é que ainda existe gente compreensiva, que descarta uso da violência, que ama o próximo. A segunda é que quem merece um chega para lá, de verdade, é o (a) "mala" que escolhe as revistas do consultório. Só revistão!


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