domingo, 30 de setembro de 2007

O templo sagrado das almofadinhas

Eu já tinha ido ao Cine Leblon. Uma ou duas vezes, no máximo. Na sexta-feira voltei lá, para ver o inesquecível "Piaf - Um hino ao amor" (o filme é assunto para outro post). E Cine Leblon merece uma homenagem.
O Cine Leblon é um desses lugares que a gente acha que não existe mais. Mas existe, ali na esquina da Ataulfo de Paiva com Carlos Góis. É um cinema antigo e grande.
Um cinema grande tem o aconchego típico das salas de cinema por um simples motivo: tem cara de cinema. Nada contra as salas modernas - algumas muito boas, algumas muito ruins. Mas o Cine Leblon é um foco de resistência que deve ser elogiado e homenageado. Imagino que alguma igreja já tenha se interessado em comprar o cinema para montar seu púlpito de expulsar capetas.
Sai pra lá, Pastor, que esse templo da Sétima Arte não lhe pertence!
Como se não bastasse o charme já natural da sala, elas estão lá, empilhadas na parede lateral da enorme sala. Elas, as almofadinhas. As poltronas do Leblon são antigas e baixas, e por isso o cinema oferece almofadinhas quadradas para elevar corpos e espíritos.
O mais divertido é reparar nos baixinhos que olham as almofadas com ar de desdém antes de se sentarem. Dois minutinhos depois lá estão eles, carregando uma para a poltrona, cabeça baixa, meios constrangidos, admitindo que sem elas o pesçoco sofreria. Vai lá, rapaz! Apanhe a almofadinha. Vai lá, baixinha, pegue logo! Você vai se sentir a Cláudia Raia!
Não fiquem assim, baixinhos! Você é um felizardo, não têm do que se envergonhar! Você está num cinema-com-cara-de-cinema, que ainda distribui almofadinha para transformar você num gigante por duas, três horas. Agradeça a Deus, você é um privilegiado!

E não se esqueça, no fim da sessão, de devolver a almofadinha à pilha na parede lateral. Outros baixinhos vão precisar delas. Todo mundo merece uma chance de crescer na vida.

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